Raniel Vieira - 10/06/2025 - 20:33
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Primeira Turma do STF avalia denúncia da PGR contra Bolsonaro e sete aliados | Bnews - Divulgação ROSINEI COUTINHO/STF |
Nos corredores do poder, o nome de Jair Bolsonaro continua ecoando — mas agora, não mais como presidente, e sim como réu. O julgamento que envolve o ex-presidente e figuras centrais de seu governo marca um dos capítulos mais dramáticos da história democrática brasileira desde a redemocratização. Acusado de liderar uma tentativa de subversão das instituições, Bolsonaro se vê cercado por um enredo de desinformação, golpismo e articulações autoritárias que abalam as estruturas do Estado de Direito.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já havia determinado sua inelegibilidade por oito anos, em decorrência da campanha sistemática contra o sistema eleitoral e pela convocação indevida de embaixadores para espalhar dúvidas sobre as urnas eletrônicas. Agora, novos processos avançam na Justiça comum, envolvendo desde suposta tentativa de golpe até associação criminosa, passando por uso indevido da máquina pública.
A Teia Bolsonarista
Os aliados mais próximos do ex-presidente também enfrentam investigações e processos. O general Braga Netto, o ex-ministro Anderson Torres e até mesmo parlamentares eleitos sob a bandeira do bolsonarismo estão na mira das autoridades. A prisão de figuras como Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, revelou um submundo de operações paralelas, mensagens cifradas e tentativas de intervenção militar.
A crítica central que se levanta é: como uma rede política que pregava o "combate à corrupção" se envolveu em tantos escândalos? Para muitos analistas, a resposta está no próprio DNA do bolsonarismo — autoritário, personalista e avesso à transparência institucional.
Instituições em Xeque
O processo judicial, ainda em curso, também coloca à prova a maturidade das instituições brasileiras. O Supremo Tribunal Federal (STF) e o TSE têm sido atacados constantemente, seja por militantes radicais, seja por parlamentares da extrema-direita. A narrativa de "perseguição política" tem sido o principal escudo retórico de Bolsonaro e seus seguidores, em uma tentativa de transformar o julgamento em um espetáculo político.
Porém, especialistas alertam que o discurso de vitimização não resiste aos fatos. "A tentativa de golpe não foi apenas retórica. Houve movimentações reais, articulações documentadas, e isso precisa ser julgado com o peso que merece", afirmou a jurista Luciana Oliveira, da UFRJ.
Ruptura ou Restauração Democrática?
O julgamento de Bolsonaro representa mais do que uma questão jurídica: é um divisor de águas na trajetória democrática do país. Se for condenado e eventualmente preso, o Brasil entrará numa nova fase de enfrentamento ao extremismo político. Por outro lado, se houver impunidade, o risco é o enfraquecimento institucional e o estímulo à radicalização.
Neste momento, o país vive um paradoxo: julgar um ex-presidente por crimes contra a democracia é necessário para sua preservação, mas também expõe o quanto essa mesma democracia foi vulnerável à manipulação de massas, ao uso do aparato estatal para fins autoritários e à leniência institucional no início do ciclo bolsonarista.
O Futuro em Disputa
O Brasil assiste, com olhos atentos e polarizados, a um julgamento que transcende os tribunais. O que está em jogo é a memória recente, o presente das instituições e o futuro político de uma nação marcada por golpes, ditaduras e redemocratizações. O desfecho desse processo não dirá apenas quem será punido, mas também que tipo de democracia o país deseja construir.