Jovens são atraídos com promessas de documentos, treinamento e apoio, mas enfrentam o front sem preparo; nove brasileiros já morreram e 17 estão desaparecidos, segundo o Itamaraty.
Um drama silencioso tem se desenrolado no leste europeu e afeta diretamente dezenas de famílias brasileiras. Jovens estão sendo recrutados por meio de redes sociais para atuar como voluntários na guerra entre Ucrânia e Rússia. Seduzidos por promessas de documentos facilitados, salários em dólares e até cidadania, muitos embarcam para um cenário de guerra sem qualquer tipo de preparo militar real.
O caso mais recente envolve o mineiro Gabriel Pereira, de 21 anos, que morreu em combate na região de Donetsk, na Ucrânia. Sua família, além de enfrentar o luto, ainda luta para localizar o corpo do jovem e trazê-lo de volta ao Brasil. “Ele queria ajudar, queria fazer algo grande. Mas não tinha noção do que iria enfrentar”, lamenta o pai, que preferiu não se identificar.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, já são nove brasileiros mortos e 17 desaparecidos desde o início do conflito. As autoridades alertam que esses voluntários, em sua maioria, não integram exércitos regulares nem recebem o respaldo jurídico de contratos formais. Em vez disso, são colocados diretamente na linha de frente, muitas vezes com armamento precário e sem instrução adequada.
Os recrutadores, geralmente ligados a grupos paramilitares ou empresas privadas de segurança, atuam por meio de perfis falsos e grupos fechados nas redes sociais. Eles exigem sigilo total e, em muitos casos, fazem com que os próprios interessados arquem com os custos da viagem, aumentando ainda mais o risco e a vulnerabilidade dos voluntários.
Além do luto e da incerteza, as famílias enfrentam a burocracia internacional e a lentidão nos processos de repatriação dos corpos. Muitas vezes, a comunicação com autoridades ucranianas ou com embaixadas é difícil, e a localização exata dos desaparecidos permanece incerta.
O governo brasileiro orienta fortemente que cidadãos não participem de conflitos armados no exterior e alerta para os riscos legais e humanitários envolvidos. Enquanto isso, o drama continua se repetindo, alimentado por desinformação, aliciamento digital e a ilusão de um propósito heroico em meio à tragédia da guerra.