Lavouras em risco, mercado em pânico e incertezas diplomáticas marcam reação imediata ao anúncio de Donald Trump, que impôs tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de agosto
O setor agroexportador brasileiro enfrenta sua maior tensão internacional desde a década de 1990. A imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, agora novamente em campanha presidencial, pegou produtores rurais, exportadores e autoridades econômicas de surpresa. A medida, que começa a vigorar em 1º de agosto, afeta diretamente as cadeias de citros e café, duas das principais forças do agronegócio brasileiro nos mercados externos.
De forma repentina, o clima de estabilidade e confiança nas relações comerciais com os Estados Unidos se transformou em alerta máximo. Os impactos já começaram a ser sentidos, principalmente no estado de São Paulo, onde se concentra o chamado "cinturão da laranja". Empresários relataram que compradores norte-americanos começaram a suspender contratos e renegociar valores, sinalizando um reposicionamento logístico de empresas internacionais.
Agricultores apreensivos e produção ameaçada
No campo, a reação é de medo e angústia. Pequenos produtores de café no interior do Rio de Janeiro e de Minas Gerais estão diante de um colapso iminente no escoamento de suas safras. Com os custos de produção em alta, e a previsão de queda nos preços internos causada pela sobreoferta local, muitos relatam que podem abandonar a atividade, gerando um efeito cascata sobre o emprego rural.
Já no setor de suco de laranja, a situação é ainda mais grave. O Brasil é responsável por mais de 75% das exportações globais da bebida, com os Estados Unidos respondendo por uma grande fatia desse mercado. Com o aumento das tarifas, o suco brasileiro perderá competitividade frente ao de países como México, África do Sul e até mesmo os EUA, que podem estimular sua produção interna. A consequência direta será a queda na receita das exportadoras, além de possíveis demissões em massa nas indústrias de beneficiamento e engarrafamento.
Tensão política e diplomática
O governo brasileiro se manifestou oficialmente por meio do Ministério das Relações Exteriores, classificando a decisão norte-americana como “hostil, desproporcional e prejudicial ao comércio bilateral”. Nos bastidores, diplomatas apontam que as tarifas podem ter motivações políticas, já que Trump busca reforçar seu discurso protecionista, tradicional em sua base eleitoral.
A situação ganha contornos ainda mais delicados diante do acirramento de tensões entre os dois países. Recentemente, membros do Congresso norte-americano criticaram a postura do governo brasileiro em temas ambientais e diplomáticos, o que pode ter contribuído para a deterioração do relacionamento.
O Palácio do Planalto estuda alternativas emergenciais, como a diversificação de mercados (especialmente com a China e países árabes), o subsídio interno à produção, e até ações judiciais em cortes internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC). No entanto, todas essas medidas exigem tempo, enquanto os prejuízos começam a se acumular.
Reações do mercado e especialistas
Economistas ouvidos por veículos nacionais apontam que as tarifas podem provocar uma desvalorização adicional do real, caso investidores entendam que o Brasil perdeu competitividade em um de seus setores mais sólidos. Analistas de risco também indicam que o país precisa apresentar resposta firme, mas equilibrada, para não ampliar a crise.
No campo político, líderes da oposição criticaram a lentidão do governo em negociar com os EUA, enquanto governadores das regiões afetadas, como Tarcísio de Freitas (SP) e Romeu Zema (MG), já solicitaram audiência com o Ministério da Agricultura para definir planos de contingência.
Um cenário imprevisível
A medida de Trump gerou ainda uma série de questionamentos sobre possíveis operações financeiras privilegiadas, uma vez que o anúncio causou forte oscilação no câmbio e em bolsas ligadas ao agronegócio. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi acionada para investigar possíveis práticas de insider trading, o que pode escalar a crise para o campo jurídico e criminal.
Enquanto isso, a incerteza é a palavra de ordem no campo e no mercado. O Brasil, que há décadas construiu sua reputação como potência agrícola global, vê-se diante de um teste severo: manter sua influência no comércio internacional em um cenário global cada vez mais instável e politizado.
Fonte: Reuters, AP News, The Guardian