Após meses como reféns, jovens relatam torturas e exploração em esquema de golpes financeiros
20/02/2024 – Redação
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Luckas Viana dos Santos e Phelipe de Moura Ferreira estavam há mais de três meses sendo vítimas de tráfico humano no Sudeste Asiático — Foto: Arquivo Pessoal |
Dois brasileiros, Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, e Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, retornaram ao Brasil na tarde desta quarta-feira (19), após serem resgatados de uma rede de tráfico humano em Mianmar.
Os paulistanos desembarcaram no Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde foram recebidos por familiares e prestaram depoimento à Polícia Federal.
A saga dos jovens começou entre outubro e novembro de 2024, quando aceitaram ofertas de emprego na área de tecnologia na Tailândia. Ao chegarem ao país, foram sequestrados e levados para Myawaddy, em Mianmar, onde foram mantidos reféns por uma máfia local de origem chinesa. Lá, foram forçados a trabalhar em uma "fábrica de golpes online", aplicando fraudes financeiras por meio de aplicativos de mensagens, sob constantes ameaças e torturas.
Durante o cativeiro, os brasileiros eram obrigados a cumprir jornadas de trabalho exaustivas, que chegavam a 16 horas diárias. Caso não atingissem as metas impostas pelos criminosos, eram submetidos a punições severas, incluindo espancamentos e choques elétricos. Em depoimento, Luckas relatou:
"Foi muito difícil estar lá. Eles batiam na gente quase todo dia. Tinha máquina de choque também, era muito difícil. A gente sofreu bastante."
A fuga ocorreu no início de fevereiro de 2025, quando Phelipe e Luckas, juntamente com outros estrangeiros, conseguiram escapar do complexo onde estavam confinados. No entanto, foram capturados por agentes do Exército Democrático Karen Budista (DKBA), um grupo paramilitar local.
Após negociações mediadas pela organização civil Exodus Road, especializada no combate ao tráfico de pessoas, os brasileiros foram resgatados e transferidos para a Tailândia, onde receberam assistência da embaixada brasileira em Bangcoc.
O retorno ao Brasil marca o fim de uma experiência traumática para os jovens e suas famílias. Cleide Viana, mãe de Luckas, expressou alívio:
"Estou muito feliz de estar aqui com a minha mãe agora. Em muitos momentos eu pensei em desistir, mas eu sabia que ia conseguir sair de lá um dia."
O caso serve como alerta para os perigos associados a ofertas de emprego no exterior sem a devida verificação. O Itamaraty reforça a importância de os brasileiros se informarem sobre as condições e a legalidade das oportunidades de trabalho fora do país, a fim de evitar situações de risco como a vivida por Phelipe e Luckas.