O ex-diretor do FMI, Otaviano Canuto, analisa em entrevista ao InfoMoney que a negociação entre as duas potências deve demorar mais que os 90 dias anunciados e que relação não voltará ao que era antes
Bado Caia News - 13/05/2025 - 16:28
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O economista Otaviano Canuto, em Washington, fala em entrevista ao InfoMoney sobre a trégua entre EUA e China na guerra comercial nesta terça-feira, 13 de maio de 2025. (Foto: Reprodução/InfoMoney) |
O início da negociação entre Estados Unidos e China para definir novas alíquotas de importação no comércio entre os dois países deverá terminar com a definição de impostos em torno de 30% a 34%, avalia o ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) Otaviano Canuto.
Os dois países anunciaram uma trégua de 90 dias na cobrança dos impostos que, em uma escalada sem precedentes, chegou a ser de 145% dos EUA contra a China, e de 125% da China contra os EUA. Durante a pausa, os países aceitaram derrubar os números. EUA cobrará até 30% para produtos chineses (10% no geral e 20% para produtos relacionados ao fentanil) e a China cobrará 10% dos produtos americanos que entrarem em seu território.
Direto de Washington, Canuto deu entrevista ao InfoMoney para analisar o que deverá ocorrer na mesa de negociações. Entre um compromisso e outro – o economista era esperado para uma entrevista em uma TV chinesa – Canuto falou que esse tipo de negociação demora mais do que 90 dias para chegar a um desfecho.
No entanto, ele acredita que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não deverá escalar a tensão para não reviver os momentos de turbulência econômica com queda da Bolsa, liquidação de títulos americanos, desvalorização do dólar e fuga de capital.
“A questão é o que vai acontecer após esses 90 dias. Porque, em geral, a maioria dos acordos comerciais leva muito mais tempo, e os Estados Unidos já estão tentando fechar acordos com outras 16 economias”, afirmou.
Apesar das dificuldades, Canuto diz que EUA e China têm interesse em chegar rapidamente a um denominador comum. “Creio que eles devem chegar em um acordo, até porque do jeito que estava, com 145% sobre a China e 125% sobre os EUA, ia significar um colapso no comércio entre as duas economias, um descolamento completo. Isso, evidentemente, ia levar a impactos poderosamente negativos nos dois lados”, afirma.
No entanto, o fim do acordo não levará os países ao mesmo patamar de antes da escalada de tensões. Para Canuto, as duas potências econômicas deverão chegar ao fim das negociações com tarifas mais altas do que aquelas praticadas anteriormente, mas ainda assim bem menores do que o teto que atingiram na onda de retaliações.
“Não haverá um retorno ao que as coisas eram antes do Trump. Ao fim, antevejo uma tarifa em torno de 30 a 34%, que é bem mais alta do que no ano passado”, diz o ex-FMI.
Fonte: InfoMoney