Lago do Amor, em Campo Grande, já sofreu dois desabamentos parciais; Estado registra queda nas inspeções e enfrenta falta de recursos para fiscalização
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Lago do Parque Arnulpho Fioravante, aos fundos do shopping em Dourados, também é classificado com risco e alto dano potencial – Foto: Arquivo |
O novo Relatório de Segurança de Barragens 2024-2025, divulgado nesta quarta-feira (2) pela ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), revelou que oito barragens em Mato Grosso do Sul estão classificadas com risco estrutural alto e alto dano potencial associado. Isso significa que essas estruturas apresentam grande chance de acidente e elevado poder destrutivo caso se rompam.
Entre os pontos críticos está a barragem do Lago do Amor, em Campo Grande, pertencente à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), que já sofreu dois desabamentos parciais nos últimos dois anos. O episódio mais recente ocorreu em março, após fortes chuvas que abriram uma cratera e destruíram parte da Avenida Filinto Müller. O caso está sob investigação do MPF (Ministério Público Federal).
Na Capital, outra estrutura em risco é a barragem da Incorporadora Atlântico S/S Ltda., no Ribeirão das Botas. Em Corumbá, a Barragem Sul da Vetria Mineração S.A. preocupa por armazenar rejeitos de mineração no Córrego Urucum. Sidrolândia lidera em número de barragens críticas, com três estruturas ligadas ao Incra (Barragem 1 – Grande, Barragem 2 e Barragem 3). Em Dourados, a barragem do Parque Arnulpho Fioravante também está na lista de alto risco e dano potencial.
As avaliações consideram a CRI (Categoria de Risco), que mede a chance de acidentes, e a DPA (Dano Potencial Associado), que analisa os impactos caso ocorra rompimento. Mesmo barragens com menor probabilidade de falha entram no alerta se estiverem próximas de áreas urbanas ou infraestruturas sensíveis.
Apesar do cenário preocupante, Mato Grosso do Sul não aparece entre os Estados com barragens prioritárias no Brasil — aquelas que representam ameaça direta à população e cujos responsáveis descumprem exigências da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB). O relatório nacional lista 241 dessas estruturas em todo o país.
Falta de estrutura e orçamento agravam situação
O Estado contabiliza 2.690 barragens cadastradas no Sistema Nacional de Segurança de Barragens, concentradas em municípios como Ribas do Rio Pardo (219), Água Clara (174), Três Lagoas (141), Brasilândia (135) e Naviraí (123). A maioria serve para irrigação, abastecimento e uso industrial.
Segundo a ANA, a ausência de classificação de risco em muitas dessas estruturas pode refletir falta de dados ou fiscalização insuficiente. Em 2024, o número de inspeções caiu 7% em relação a 2023, impactado pela escassez de profissionais especializados e pelo déficit orçamentário.
No Brasil, 24 acidentes e 45 incidentes com barragens foram registrados apenas neste ano, com duas mortes confirmadas. O Rio Grande do Sul, que enfrentou enchentes históricas, concentrou a maioria dos casos. Criada pela Lei nº 12.334/2010, a PNSB estabelece diretrizes para proteger vidas, o meio ambiente e o patrimônio público. O relatório da ANA é usado como referência para ações de órgãos fiscalizadores e empreendedores responsáveis pelas barragens.
Fonte: Dourados Agora