Memes gerados por IA viralizam nas redes sociais, mas levantam alertas sobre impacto psicológico e limites do humor online
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Memes "Brainrots" viralizam nas redes com frases aleatórias e humor caótico gerado por inteligência artificial. (IMAGEM: REPRODUÇÃO / INTERNET) |
Nos últimos anos, um novo tipo de conteúdo digital vem chamando atenção nas redes sociais: os "Brainrots". Esse nome, que em tradução livre significa algo como "apodrecimento cerebral", define uma categoria de memes gerados por inteligência artificial que combinam frases aleatórias — muitas vezes em italiano — com imagens bizarras, sons repetitivos e elementos sem sentido lógico.
Embora o objetivo aparente desses conteúdos seja o entretenimento, o efeito causado nem sempre é o de provocar risadas. Muitos usuários relatam confusão, desconforto e até irritação ao se deparar com os "Brainrots", que geralmente possuem um humor considerado nonsense, caótico e, por vezes, perturbador. Apesar disso, o fenômeno se espalha com velocidade, especialmente entre adolescentes e jovens adultos que consomem conteúdo em plataformas como TikTok, Instagram e X (antigo Twitter).
A ascensão do absurdo como tendência digital
Para alguns, os "Brainrots" representam uma evolução natural da cultura de memes, que sempre explorou o absurdo e o imprevisível como formas de humor. O uso da inteligência artificial para gerar frases sem lógica ou combinações inesperadas reforça esse estilo, criando uma estética que mescla ironia, estranheza e aleatoriedade.
Contudo, especialistas em comportamento digital e saúde mental alertam que a exposição contínua a esse tipo de conteúdo pode gerar impactos psicológicos. “Estamos diante de uma forma de humor que desestabiliza a lógica e o raciocínio, o que pode, em excesso, afetar a cognição e a maneira como interpretamos informações”, explica a psicóloga comportamental Marina F. Costa, que estuda os efeitos da cultura digital no cérebro.
Quando o meme ultrapassa o limite
Outro ponto de preocupação é o conteúdo de algumas dessas postagens. Críticos apontam que certos "Brainrots" trazem mensagens que podem, direta ou indiretamente, minimizar ou até fazer piada com temas graves, como genocídio, guerra, violência e sofrimento humano. O problema se agrava quando os usuários — especialmente os mais jovens — não possuem maturidade suficiente para compreender o peso dessas temáticas ou identificar ironias de mau gosto.
Segundo especialistas, a falta de filtros éticos em IAs que geram esse tipo de conteúdo é um dos principais riscos. “Ao permitir que algoritmos criem frases com base em dados soltos, corre-se o risco de gerar conteúdos ofensivos ou perigosos, sem a devida curadoria humana”, explica o professor de ética digital Luiz A. Ramos.
Entre o riso e o alerta
A discussão sobre os "Brainrots" também reacende debates antigos sobre os limites do humor, a responsabilidade nas redes sociais e o papel da inteligência artificial na produção de conteúdo. Enquanto alguns internautas defendem o direito de rir do absurdo, outros cobram moderação e consciência sobre o tipo de material que se compartilha — principalmente quando há o risco de banalização de temas sensíveis.
Por ora, os "Brainrots" seguem em alta, alimentando timelines com sua mistura de ruído, caos e aleatoriedade. Resta saber até que ponto essa tendência será apenas uma fase passageira ou um sintoma mais profundo do estado atual do entretenimento digital.